Metamorfose
A noite chegava lentamente, a primeira noite solitária.
- Finalmente! Pensou ela. Há muito desejava ficar sozinha, mas isso é quase impossível quando se tem marido e filhos.
Dirigiu-se a cozinha e preparou sua primeira refeição com requintes de jantar de gala. Talheres de prata, guardanapo de linho, pratos da mais fina porcelana e uma rosa, solitária também, ao centro da pequena mesa.
Nos dias que se seguiram a solidão começou a lhe pesar como um manto escuro e envolvente.
Começou por deixar de lado as travessas e se servir diretamente das panelas.
A cama já não arrumava mais ao levantar. Limpar a casa? Pra que? Ninguém ia reparar mesmo. Aos poucos foi abandonando todos os traços de civilidade enquanto ouvia as vozes dos filhos em todos os cômodos vazios.
- Mamãe? Cadê minha camiseta?
- Mãe, me leva pra escola?
Quando a família chegou após um longo período de férias, acharam estranho encontrar a porta destrancada. A casa revirada sugeria a entrada de um ladrão.
- Mãe? Mamããaaaaeeeee?
- Pai, corre, tem um monstro cabeludo deitado no meio dos cachorrinhos!
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