Sonhar o possível
O domingo que é dia de massa
com môlho que é feito às pressas
e vinho tinto sem graça
transforma-se feito fumaça
quando o sonho leva a moça
que sonha, pela janela.
A segunda da faxina
onde a casa se resigna
a ser virada do avesso,
transforma-se em pesadelo
quando a moça sonha o sonho
em que falta o jardineiro,
a caseira e o copeiro.
Na terça, quando se arejam
mantas e cobertores
travesseiros e colchões
deita-se a moça na rede
e sonha que não tem paredes
nem teto, nem cama, nem nada
e que portanto não precisa
trabalhar feito uma desvairada.
Na quarta, meio de tudo
é dia de feijoada, de tutu e de laranja
de farofa e couve fatiada,
sonha a moça na sacada
que o moço no carroção
vem trazendo um garrafão
de vinho da melhor safra
em troca de seu feijão.
Na quinta, dia de feira,
de encher todas as fruteiras
com cores, formas, sabores
perfumes que dão desejos
a moça sonha com cheiros
com o perfume das flores
que o rapaz lhe oferece
sempre falando de amores.
Na sexta, dia do peixe
do pirão e da batata
corada que nem a moça
que vermelha se retrata
quando o moço bate a porta
pedindo-lhe que o acompanhe
no passeio pela praça
na dança do trottoir.
No sábado o dia é de festa
de sonhar de olhos abertos
de vestir rouba bonita
e sair para flertar
o moço que a deixa aflita
quando passa todo dia
de bicicleta ou lambreta
convidando com o olhar.
Comentários