De tudo fica um pouco
Fica um gosto de saudade no canto da boca ao nos afastarmos de quem gostamos. Fica o sal do último beijo a umedecer os lábios, um aroma ao respirar mais fundo, buscando o ar que parece nunca ser suficiente. Mas se de tudo que perdemos sempre fica um pouco, porque será que me sinto tão esvaziada?
Não consigo dormir. Me ponho a pensar nas pessoas de quem gosto muito. Como chamá-los? Amigos? Amores? Invento palavras para traduzir meu sentimento sem cair no senso comum. Invento formas de me traduzir para ser compreendida. Sou uma farsa, eu sei. Se me mostrar como me vejo, com meus medos, meu jeito estranho e diferente de amar, haverá quem me veja da mesma maneira? Cada olho enxerga de sob um ângulo diferente. O seu olho, vê de frente quando olha o meu. O meu olho vê de lado quando olha o seu. O meu olho, vê de frente quando beija o seu. Olho para a frente e tento me ver como sou vista. Explico para mim tudo aquilo que me engasga e fica preso na garganta. Não adianta. Eu sei me compreender, mas não sei me perdoar. Sei que amo. Sei que falho com meus amores. Sei que amo muito. Sei que me faltam palavras, gestos, atitudes para traduzir isto de forma compreensível a todos. Sei que não sou a melhor tudo e sei também que gostaria de sê-lo mas que nunca conseguiria. O que não sei é porque tudo é tão difícil. Porque amar não pode ser tão somente um sopro de ar preenchendo os vazios de quem os tem? Porque os vazios cheios de ar precisam mais para respirar?
Fica sempre um pouco de vazio quando a gente se enche de amar.
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